quinta-feira, 9 de junho de 2011

Um novo Da Ghama

Depois de mais de 20 anos de sucesso com o grupo Cidade Negra, guitarrista se vê 'desplugado' e pronto para novos desafios em carreira solo

POR ANDRÉ REZENDE | FOTOS RAFAEL CUSATO





Violas e Canções é o primeiro trabalho solo do ex-guitarrista do Cidade Negra. Nele, Da Ghama traz uma nova sonoridade sem, no entanto, abandonar o reggae, ritmo de grande importância em sua formação musical. Mas é o ecletismo de Violas e Canções que chama a atenção. Além do reggae, o agora também intérprete desfila uma seleção de samba e MPB, numa grande homenagem às suas origens. Neste bate-papo sobre a nova fase profissional, Da Ghama fala também de sua saída do Cidade Negra e a volta da formação original do grupo, com Toni Garrido como vocalista. "Eu não fui chamado!"
O que os fãs podem esperar deste "novo Da Ghama" em carreira solo?Além do bom reggae, vou apresentar aos fãs canções com uma estética MPB e a minha estreia como intérprete.
Basicamente, Violas e Canções segue um ritmo mais acústico e intimista, como sugere o nome do trabalho. Como você, acostumado com guitarras elétricas e distorções, analisa este momento da carreira? É difícil se "desplugar"?Com certeza! Sinto saudade das distorções e da guitarra com um som visceral, mas confesso que estou curtindo muito esse momento dos violões, porque, na verdade, é a minha raiz musical. Depois de uns seis anos tocando violão, é que eu comecei a me relacionar com a guitarra, na época em que uni a rapaziada para formar o grupo Novo Tempo, que depois virou Lumiar e, hoje, é o Cidade Negra. Violas e Canções é uma homenagem da fase adolescente, quando a gente se encontrava pelas esquinas de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, para bater uma viola.
De onde vem o ecletismo presente no repertório do CD? Quais foram suas influências musicais?
O ecletismo é uma influência direta que sofri em casa, por fazer parte de uma família de cinco irmãos, e eu, o caçula, absorvia tudo o que os meus irmãos curtiam, desde o samba à soul music dos anos 70, e a nossa mãe, a MPB. O reggae veio mais tarde, através do movimento afro, que me aproximei já no início da idade adulta. Minhas influências são Gilberto e outros mestres, como Djavan, Tim Maia, Emílio Santiago, Banda BlackRio, Jorge Ben Jor, Marcos Valle e Bob Marley.

Em sua opinião, o que tem de verdadeiro nas bandas de reggae brasileiras, atualmente? E nos fãs?
A verdade que eu vejo nas bandas de hoje é simplesmente a influência musical do gênero, e não seguidores da filosofia reggae. Consigo ver em algumas bandas e artistas solos alguma atitude rastafári, mas não reais seguidores. Até gostaria de conhecer algum no Brasil. Quanto aos fãs, acredito que alguns estão ligados no aspecto político e espiritual que o reggae se propõe, mas existem aqueles que se relacionam simplesmente por uma questão de moda.

Como um dos fundadores do Cidade Negra, o que o levou a se desligar da banda e seguir em carreira solo? Problemas com os outros integrantes ou vaidade mesmo?
Após dois meses da saída do Toni Garrido, o Bino e o Lazão me chamaram para uma reunião, em que eles fizeram uma exigência para eu parar com o meu projeto paralelo e retirar o site do ar ou estaria fora da banda. Para mim seria muito difícil a continuidade por uma questão de falta respeito que acho que faltou com uma pessoa que vinha guerreando desde os tempos da Baixada Fluminense. O meu projeto era um conceito musical que não competia com a banda, que estava parada, seria uma maneira de estar trabalhando. Qualquer um poderia fazer um projeto paralelo. O Titãs é um bom exemplo: quem resolveu fazer solo, fez e continuou na banda. Tudo certo! Quem resolveu sair por livre e espontânea vontade, saiu e continua a sua carreira. Faltou um pouco de maturidade e segurança dos companheiros. Na real, não tinha necessidade de chegar aonde chegou, mas a vida continua e vamos aprendendo. Torço pelo sucesso de todos.



Atualmente, como é a sua relação com os outros membros da banda, que terá a volta de Toni Garrido?
Não temos feito contato, acho uma pena, porque antes de negócio ou vaidade, não podemos negar o que existe em cada um do nós, temos uma história muito séria. Hoje, somos grandes referências na nossa região. Para a galera, fica um pouco difícil absorver, mas não é a primeira banda em que acontece uma ruptura e não será a última. Faz parte do movimento.

Você foi chamado para este novo projeto do Cidade Negra?
Eu não fui chamado, soube da volta do Toni através de uma entrevista dele para a MPB FM, no Rio de Janeiro. Eles estavam se encontrando e preparando o retorno do Toni para o final de 2010 e um novo CD.
Se me ligarem, poderemos conversar e pôr a vida em dia, mas se não ligarem, entendo e, automaticamente, fica claro que não existe interesse da formação original.
Vivemos em uma democracia e temos que respeitar a decisão da maioria e ver o que é de direito para todos. E segue o baile...

Nos shows, você apresenta parte do repertório do Cidade Negra (com muitos sucessos de sua autoria) ou prefere seguir em frente com novas concepções musicais e não associar seu novo trabalho à antiga banda?
O meu show é a cara o meu novo CD: canto Bob Marley e músicas de algumas bandas que fazem parte do reggae nacional. Sempre tive muito cuidado pra não ficar em cima do repertório do Cidade Negra, mas também cuidando para não negar a minha história de sucesso dentro da banda ao longo desses anos.

Como está a recepção ao Da Ghama solo no cenário musical (fãs, mídias, shows...)Acredito que, como o primeiro projeto e diante dessa incrível crise do CD, está indo muito bem, segundo a Microservice, que distribui o meu CD. Mas sei que tenho muita pedra para quebrar. Faz parte do processo e desafio nos realimenta, nos impulsiona pra vida e pra renovação.

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